Citemor 2016

© Miguel Bonneville

MIGUEL BONNEVILLE

MB#6

Sáb 13 Ago | 22:30 | Sala B

Faz oito anos que estreei esta performance e não me canso dela. Continua a fazer sentido apresentá-la, contrariamente à maioria das performances desta série. É como uma passagem de um livro, ou um poema, ao qual regressamos sempre porque nos diz sempre alguma coisa importante sobre a nossa vida nesse momento.

2008, o ano em que concebi e apresentei a performance, foi o ano oficial do início da crise política e económica. Mas para mim, foi precisamente o contrario: foi um ano que marcou o início do fim da minha crise emocional. Foi o ano em que comecei a ler Beauvoir, foi o ano em que decidi deixar para trás as minhas relações falhadas e tortuosas, em que revelei o pior segredo da minha vida.

E, olhando para trás, começo a pensar se, para esta performance, aquela famosa frase “não se nasce mulher, torna-se mulher”, não pode ter sido mais do que decisiva.

A minha relação com as mulheres sempre foi de uma imensa cumplicidade, e de uma partilha e compreensão profundas. Não terá sido então esse o meu impulso – que esteve sempre latente -, o de, através destas seis mulheres (minhas amigas, conhecidas, artistas, irmãs) eu me tornar mulher?

Talvez seja por isso que continue a fazer sentido apresentá-la uma e outra vez, visto que tornar-se mulher significa pensar e repensar sobre o que é ser-se mulher.

As autobiografias feitas por mulheres sempre foram, ao longo da história, vistas como incompletas, descontinuas, incoerentes, fragmentadas ou privadas. Vejo assim também o meu trabalho, pois sei que uma autobiografia coerente, contínua e narrativa é uma impossibilidade. Será sempre incompleta, em contínua transformação e regenerando-se.

Um ritual, uma possessão, esta performance oficializa a minha passagem de uma consciência intuitiva para uma consciência assinada.

MB#6 constantemente a tornar-me mulher, com o maior dos prazeres.

Concepção e Interpretação Miguel Bonneville

Colaboração Sofia Arriscado, Joana Craveiro, Joana Linda, Rita Só, Cláudia Varejão, Sara Vaz

Edição de vídeo Sofia Arriscado

Design Inês Ferreira, Joana Linda

Fotografia de Cena Ynaiê Dawson

Apoio Eira

Co-Produção Dupla Cena


http://miguelbonneville.com


M/16; 80 min