estreia absoluta
O Aumento, ou incrementum, consiste na compilação de argumentos para chegar a uma convicção.
As seis personagens, num jogo dirigido ao público, lançam mão a uma lógica especial que não encontra outra explicação fora de si mesma. Percorrem, pouco a pouco, o mesmo itinerário labiríntico à procura de uma verdade que elas não têm o direito de formular, partindo da imagem de um indivíduo que sonha encontrar o seu chefe de serviço para lhe pedir um aumento.
O Aumento é também um fluxograma de dados inventado para a empresa de computadores Bull e, em seguida, adaptado por Perec para formar a base de uma novela de rádio. As palavras aparecem como um jogo, tipo quebra-cabeças, onde a solução dos sucessivos problemas implica movimentos cada vez mais complexos, como por exemplo: um primeiro movimento implica outro, o segundo dois, o terceiro quatro, o quarto oito, o quinto dezasseis e assim sucessivamente.
Tendo como base uma atitude, que se mantém ao longo do espectáculo, cada personagem faz gestos simples e maquinais. A cada novo gesto executado somam-se todos os anteriormente realizados, e todos os movimentos devem criar um mundo à parte.
As personagens não têm consciência de que aqueles são os únicos gestos que podem e que sabem fazer. Apesar do número limitado de movimentos e de atitudes físicas, elas vão sempre avançando no espaço e no tempo da acção.
Da totalidade dos gestos das personagens nasce a coreografia e desta especificidade não deverá transparecer uma monotonia, mas sim um elemento de diversão.
O pressuposto de que o texto é um som leva-nos a manipulá-lo musicalmente, a compôr as palavras como numa partitura, acompanhando cada sílaba com notas musicais ou silêncios. Trata-se de um sinal muito importante neste espectáculo, pois é como se os sons criassem uma paisagem.
Não há chão nem céu nem água, nada que possamos identificar como um lugar ou um tempo. Há a situação do quotidiano (re)criada no jogo levantado pelos actores, jogo esse em que se irá ensinar o espectador/público a pôr o máximo de probabilidades do seu lado quando for pedir ao seu chefe de um reajustamento de salário.
António Pires
Encenação António Pires
Interpretação Julie Sergeant, Eurico Lopes,Paulo Pinto, Jacinto Durães,Francisco Nascimento e Nuno Lopes
Texto Georges Perec
Tradução Isabel Feijó Cenografia João Mendes Ribeiro
Assistente de cenografia Alexandra Cruz
Direcção musical Vitor Milhanas
Desenho de luz João Paulo Xavier
Figurinos Rosa Freitas
Movimento Adriana Queiróz
Voz off Carole Garton
Direcção de produção Diana Coelho
Assistente de produção Maria Tengarrinha
Secretária de produção Catarina Fortes
Produção David & Golias