Citemor 2011

Parto de um desejo: separar o gesto e o movimento da sua possível simbologia para emergir no corpo, na sua escritura como linha e ponto, como lugar de expansão em trânsito; sem necessidade de uma direcção vertical, a não ser a partir da convivência de uma série de traços que coexistem em múltiplas direcções. 

Abrir e oferecer paisagens com o corpo, espaços para o olhar que não tentam apreender um significado senão aquele que permite existir penetrando nos tempos e geografias do estar. Pretendo fazer sem que aconteça algo... chegar a esse lugar: lugar do corpo, lugar do olhar, lugar da atenção, em que a contemplação não tenta construir, antes se deixa nadar por paisagens do corpo que enunciam um tempo sem tempo, um estar-sendo. E encontro-me ludicamente com um fracasso. Como disse J.L. Nancy «ver um corpo não é desvendar um mistério, é ver o que se oferece à vista, a imagem, a imensidão de imagens que é o corpo, a imagem despid, que deixa nua a realidade». Assim, estes apuntes são um transitar entre a concretização e a abstracção. De novo, um desejo de nadar sem mais, pelo prazer de estar, e uma constatação da impossibilidade de não significar. Entendendo que esse roçar de espaços da experiência, além da sua significação, passa sempre pelos signos, pelas imagens e pelos contextos, não pela sua negação ou desconstrução. Procurando jogar com eles a partir de um lugar que possibilite outros espaços de experiência que não necessitam ser enumerados, mas sim ditos, accionados, expostos. Colocar, assim, o corpo nesse limite de onde vem o corpo relacional, vinculado, em entre-corpos. 

Ana Buitrago 

Ideia/conceito e interpretação Ana Buitrago 

Iluminação Carlos Marquerie 

Som Javier Álvarez Alonso, John Cage 

Filmagens/vídeo Mar Gimènez 

Produção No hay 

Apoio Espacios Cómodos’10 - La Porta 

Agradecimentos María Navarro, Carme Torrent, Carmelo Salazar, Lola Jiménez, Antonio Férnandez Lera e David Benito