Laboratório

LABORATÓRIO

A obra de Rui Catalão tem vindo a afirmar-se em Portugal desde 2010, e depois de quatro anos de intensa produção no CNDB de Bucareste. O seu trabalho de palco é acompanhado pelos principais programadores nacionais: Teatro Maria Matos, Teatro Nacional D. Maria II, Culturgest, Fundação Serralves - as mais importantes instituições portuguesas têm vindo a apoiar e a apresentar o seu trabalho de forma consistente nos últimos seis anos, reconhecendo a exigência, a relevância e o sentido inovador das suas propostas.

Rui Catalão é também reconhecido pelo seu trabalho artístico com a comunidade e pelo trabalho de criação de novos públicos.

A construção de Assembleia realiza-se a partir de um Laboratório de trabalho aberto à comunidade onde o espectáculo será apresentado e onde se irá trabalhar as temáticas e preparar a assembleia com um grupo local.

Sendo a participação local um dos elementos do projecto, cada espetáculo criado terá uma ligação directa com o contexto local, com as suas histórias, com o seu património.

O “casal de actores”, protagonista da peça, poderá ser do elenco inicial da peça ou ser encontrado e preparado no contexto do laboratório.

Os participantes do Laboratório farão parte da “assembleia” enquanto público activo, na apresentação final, juntamente com o restante público.

LABORATÓRIO de Teatro / Dança / Dramaturgia

Sendo a formação e dramaturgia a principal vertente do trabalho de Rui Catalão, pretende-se realizar um Laboratório para desenvolver o seu método junto de jovens artistas ou outros indivíduos da comunidade local. O Laboratório põe em prática um modelo em que os participantes se tornam intérpretes do seu próprio trabalho. Tornam-se actores e dramaturgos. Isso implica uma tomada de consciência: a importância da capacidade de observar, de reflectir, de valorizar a experiência pessoal, o acto de descrever e criar narrativas, e de assumir um diálogo na relação com os outros. Não se trata de memorizar um texto, mas de usar a memória, e a capacidade de reflectir e articular o pensamento. Não se trata de representar uma personagem, mas de assumir as consequências dos seus actos.

A peça que resulta deste Laboratório é um frente-a-frente com o público, envolvendo-o e provocando a sua participação nos temas debatidos.

PÚBLICO PARTICIPANTE

Uma vez definidos esses problemas do domínio público, que dependem de uma escolha colectiva, o casal convoca então a assembleia – o público na plateia!

O diálogo entre o casal e o público visa estabelecer um contrato: a comunidade, representada pela assembleia, aceita como válidos os problemas enunciados? Solidariza-se com eles? Está disposta a responsabilizar-se, assumindo que são uma causa comum? Como é que pretende fazê-lo? Quem faz o quê? Com que meios? Recorrendo a que tipo de ações? Quem se compromete? Quem se responsabiliza? Qual é a próxima etapa?

O objectivo do projecto Assembleia é consciencializar o público (a comunidade) para a dimensão política da vida comum. Até que ponto a vida privada depende de decisões tomadas no domínio público? A que nível é que a saúde da vida pública depende do envolvimento da comunidade e dos compromissos por ela assumidos? Que acções e estratégias são permitidas a uma comunidade, quando ela se assume como ponte entre os problemas concretos das pessoas, e a classe política que a representa nas suas diversas instituições? Qual é o território em que uma comunidade pode actuar informalmente, sem estar dependente das instituições?

A incentivar o dialogo, estarão também os participantes locais que frequentaram o laboratório.

ABORDAGEM

Um casal de actores discute “o problema da habitação” e da “coabitação”.

“O problema da habitação” não tem apenas a ver com a casa, mas também com os problemas no bairro, na população em que habitam, no país em que vivem, na união europeia ou no continente em que o país está integrado.

Um dos elementos do casal defende que devem permanecer, e trabalharem juntos para criarem melhores condições. O segundo elemento do casal, opostamente, defende que devem mudar - havendo quatro níveis potenciais de mudança: 1.de casa, 2.de bairro, 3.da cidade ou da população, 4. do país.

O resultado da discussão deve gerar três opções: ou ficam, ou mudam-se, ou separam-se e cada um segue a sua própria decisão.

A partir do momento em que conseguem chegar a um acordo, sobre os problemas que devem solucionar entre si, trata-se então de identificar problemas que só podem ser resolvidos no contexto da comunidade, usando “ferramentas” políticas para solucionarem os problemas apontados.

A partilha de espaço, seja o espaço da privacidade, seja já no domínio público (numa dimensão que atravessa a política e seus modelos, os modos de vida, assim como todas as práticas e discursos que se chocam e entrecruzam no espaço público), mas também nessa fronteira a que chamamos natureza, com todas as espécies vivas a disputarem um território entre si, é um tema que atravessa todos os aspectos da vida, sem deixar nenhum de fora.

Co-habitar, engendrar estratégias de partilha – pode dizer-se que todos os modelos e formas de actividade estão contidos neste tema. E para ele não há soluções estáveis ou definitivas – adaptamo-nos a ele conjunturalmente e de forma precária. Até mesmo a alternativa pelo genocídio, ou pelo êxodo, são provisórias, a partir do momento em que observamos o arco da história a desenhar-se.

Explora-se a necessidade de ritualizar e dinamizar o espaço de reunião, através do uso de regras básicas, princípios coreográficos elementares e noções discursivas que promovam a escuta, o debate de ideias, e um sentido pragmático de como pô-las a operar – ou seja, de como realizá-las na prática.

O mais eficaz laboratório da humanidade não é a imaginação – é mesmo a realidade!

FUTURO

Se aceitarmos que a utopia é o lugar onde as experiências são possíveis, em que se pode pensar uma alternativa, em que se pode partir de uma ideia de “fazer tudo de raiz”, então não haverá comunidade mais habilitada para avançar para um processo utópico.

Mesmo que numa fase embriónica, intuitiva, e por isso impossível de validar, aceitemos este enunciado fictício: que a cidade é um centro de pesquisa, em que os experimentadores são os próprios habitantes.

Façamos agora uma proposta a esses pesquisadores: que entrem na Assembleia, que discutam as suas ideias e práticas. Que agitem, tomem consciência, e canalizem a energia desperdiçada na comunidade.

As sessões de trabalho terão lugar no Teatro da Cerca de São Bernardo, nos seguintes períodos: 6 a 12 de Novembro, 19 a 24 de Novembro e 28 de Novembro a 1 de Dezembro. A participação é gratuita e não é requerida experiência em artes performativas. Se tiver disponibilidade e interesse pode esclarecer dúvidas ou realizar a sua inscrição através do e-mail coimbra.assembleia@gmail.com ou pelo telefone 917 909 607.