A Via Láctea é uma peça cénica que orbita em torno do conceito de início: o início de um processo, de uma ideia, de uma ação, de um caminho. O início como afirmação, como possibilidade que não precisa de ser resolvida. Num contexto em que imaginar alternativas às nossas formas de vida e de produção parece cada vez mais difícil, pergunto-me como dar um primeiro passo que ative outra direção, por mais pequena que seja. A peça constrói-se como uma acumulação de começos, um início de inícios ou um início infinito que coloca o foco em como permanecer no momento em que algo novo surge.

Trata-se de uma conferência performativa ou um solo cénico pensado a partir do corpo, em estreita relação com a palavra. O ponto de partida é a Via Láctea do universo e a fotografia Lily (2008), de Melanie Bonajo. Sinto-me como a Lily, nua sobre uma pilha de livros, montes de conhecimento que lutam por escapar das páginas e infiltrar-se no corpo.

Esta peça é sobre coisas díspares, aquilo que tenho diante de mim, que é muito diverso, mas também de juntar o que vejo com o que não está presente. Trata-se de criar uma constelação que, de algum modo, faça algo mover-se. É sobre não ver o todo. Trata-se de sentir-se como um piolho numa peruca. De que se alimenta o piolho? De sangue: imagina-o numa peruca. É sobre procurar uma saída no sítio errado até ficares exausta. Trata-se de ligações improváveis, de coisas atravessadas, de magia, de Kim Basinger e Carlos Jesús, de um tipo a falar-te, de esporos violentos a flutuar no ar, de acumulação originária, de telepatia e sonhos premonitórios, de exagerar tudo e de inventar tudo para que algo nos ajude a viver de outra forma.

Maria Garcia Vera

Ideia, criação e interpretação María García Vera

Música e espaço sonoro Los Sara Fontán (Sara Fontán e Edi Pou)

Apoio dramatúrgico e coreográfico Néstor García Diaz

Olhar exterior Juan Miranda

Acompanhamento Constanza Aguirre, Sofía Asencio, Mariona Naudin e Amaranta Velarde

Produção Beca Barcelona Fábricas de Creación-La Caldera, Espai Nyam Nyam, IN-Presentables de La Poderosa, Festival Citemor (Portugal), Institut Ramon Llull.

mariagarciavera.com

M/16; 1h05