Citemor 2015

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JOHN ROMÃO

PASOLINI IS ME

Sab 8 Ago 20:00 - Castelo

"Toda a obra literária, cinematográfica e até mesmo política de Pasolini parece atravessada por tais momentos de excepção em que os seres humanos se tornam pirilampos - seres luminescentes, dançantes, erráticos, intocáveis e resistentes, sob o nosso olhar maravilhado.

"(Didier Huberman, A sobrevivência dos pirilampos, 2009)

A dança dos pirilampos, esse momento de graça que resiste ao mundo do terror, é o que existe de mais fugaz e de mais frágil. Em 1975 (no ano em que foi assassinado), Pasolini teorizou política e historicamente o desaparecimento dos pirilampos na periferia de Roma. Desapareciam porque eram ofuscados brutalmente pelos grandes projectores do poder, pelo que nos cabia (e cabe ainda) a nós poder ver os pirilampos, essas pequenas luzes em movimento do contra-poder, danças do desejo, de acasalamento, que formam comunidade.

Inspirado neste conceito de "excepção" pude verificar como a obra de Pasolini está recheada com os conceitos de movimento e de dança, associados tanto a um carácter ritualista e cerimonial como de diversão pura. Em ambos os casos, a dança associa-se a uma liberdade (que, mais tarde, deixará de ser livre), a uma inocência (que, mais tarde, se torna uma culpa) e a uma obsessão pelas margens, nascida "daquele período elegíaco friulano / de masoquista, exibicionista e masturbador, /entre as amoreiras e os vinhedos vistos pelos olhos mais puros do mundo". São muitas vezes danças contraditórias porque ora honram a luz ora festejam o medo e o conflito.

Os exemplos são inumeráveis: basta pensar na dança sem sentido de Ninetto Davoli na curta-metragem La sequenza dei fiore di carta (A sequência da flor de papel), de 1968, onde a inocência luminosa do rapaz se destaca sobre o fundo da movimentada Via Nazionale, no centro de Roma; voltamos a ver o Ninetto numa dança saltitante enquanto mensageiro de Teorema (1968); as aulas de dança assistidas por Totó e Ninetto em frente a uma taberna na periferia de Roma, em Uccellacci e Uccellini (Passarinhos e passarões), de 1966; a luta torpemente coreografada num chão empoeirado entre Accatone (Franco Citti) e o seu cunhado, em Accattone (1961); etc.

Depois de um ciclo de dois anos dedicado a Pasolini, queria agora fazer uma celebração de carácter informal: abordando a sua obra poética (sobretudo aquela inédita em português), num tom comemorativo e festivo, e com a colaboração dos artistas plásticos João Pedro Vale & Nuno Alexandre Ferreira e do músico Nicolai Sarbib, pensámos num recital que estabelecesse uma relação entre a poesia derrotista do autor e o conceito de movimento e de dança. presentes na sua obra. Dei-lhe o título PASOLINI IS ME (primeira frase da canção "You have killed me" do Morrissey).

"Dizem que o sistema come tudo, que assimila tudo. Não é verdade, há coisas que o sistema não pode digerir. Sei perfeitamente que a poesia é inconsumível no sentido mais profundo, mas eu quero que seja o menos consumível possível também exteriormente. O mesmo vale para o cinema: farei filmes cada vez mais difíceis, mais áridos, mais complicados e, talvez, mais provocadores, para que seja o menos consumível possível, e exactamente igual com o teatro, que não pode converter-se num meio de massas, pelo que o texto deve permanecer sem ser consumido."

(Pier Paolo Pasolini, excerto da entrevista com Giuseppe Cardillo, 1969)

Um recital/performance de John Romão em colaboração com os artistas plásticos João Pedro Vale & Nuno Alexandre Ferreira e o músico Nicolai Sarbib

Com Albano Jerónimo, Ana Bustorff, John Romão, Mariana Tengner Barros, Pedro Garcia e Solange Freitas

Recolha e tradução de poemas John Romão

Intervenção plástica João Pedro Vale & Nuno Alexandre Ferreira

Músicas Nicolai Sarbib

Co-produção Colectivo 84, Murmuriu, Festival Temps d'Images

Produção executiva Stage One


http://colectivo84.blogspot.pt


O Colectivo 84 é uma estrutura financiada pelo Governo de Portugal / Secretário de Estado da Cultura / Direcção Geral das Artes.