Citemor 2014
TEATRO DO VESTIDO
FRAGMENTOS DE UM MUSEU VIVO DE MEMÓRIAS PEQUENAS E ESQUECIDAS
— SOBRE A DITADURA PORTUGUESA, A REVOLUÇÃO E O PROCESSO REVOLUCIONÁRIO
Sex 8 e Sab 9 Ago | 22:30 | Teatro Esther de Carvalho | Montemor-o-Velho
antestreia, residência de criação
Este projecto performativo parte de uma pesquisa sobre algumas das memórias da história recente de Portugal, numa perspectiva histórica, política e afectiva, e com base em testemunhos de pessoas comuns – desafiando as grandes narrativas destes três períodos/acontecimentos, que se têm construído sobretudo sobre a ideia de protagonistas militares e políticos. Quisemos saber onde ficavam as pessoas no meio destas memórias, e destas narrativas, e como é que a transmissão deste período crucial da história de Portugal se opera nos dias de hoje. Que omissões, revisões, rasuras estão a acontecer e como e por quem? Que versões da história nos são ensinadas e que outras podemos aprender? Segundo Keith Jenkins, a história e o passado não são a mesma coisa. Segundo Elizabeth Jelin, a memória é uma luta. Segundo Hayden White, a história é uma narrativa. E, por fim, segundo Marianne Hirsch, a 2ª e 3ª gerações são aquilo a que ela chama ‘gerações da pós-memória’. A nossa memória é, portanto, pós e é nessa condição de um ‘outro olhar’ que temos vindo a construir as palestras performativas que fazem parte deste museu, como uma lição de história que não se aprende em nenhuma disciplina que conheçamos – e talvez por isso mesmo estejamos a construir este espectáculo: por nunca o termos podido aprender mesmo quando pedimos que nos ensinassem, que nos contassem como as coisas se tinham ‘realmente’ passado.
O facto de o ano de 2014 marcar o 40º aniversário do 25 de Abril não é uma coincidência.
“There is a secret agreement between past generations and the present one.”
(Há um acordo secreto entre as gerações passadas e a geração actual)
Walter Benjamin
Em Portugal, na ausência de uma Comissão da Verdade e Justiça[1], ou algo semelhante, são os activistas, os cientistas sociais, os historiadores, bem como os artistas, quem tem levado a cabo esse paciente trabalho de reconstituição, contra a usura do tempo e das ideologias vigentes que, cada qual à sua maneira e de acordo com a sua agenda, têm procurado – mais do que estabelecer pontos de vista – reescrever a história. Paula Godinho descrevia assim em 2011, o que ela considera ser um fenómeno desde o final dos anos 80, “que passa pela desqualificação dos momentos revolucionários, pela sua avaliação com ressalvas ou pelo completo banimento, e, concomitantemente, por uma desvalorização do carácter repressivo do Estado Novo, por imposição de uma agenda política mais generalizada.” E acrescenta: “(...) falar e escrever acerca de revoluções e revolucionários não está na moda (...).” (Paula Godinho, introdução a Aurora Rodrigues, Gente Comum – Uma História na PIDE, Castro Verde: 100Luz, 2011)
Apresentamos no CITEMOR fragmentos de um projecto mais amplo, que estreará no final do ano, e ao qual chamámos "Um Museu Vivo de Memórias Pequenas e Esquecidas". A presente selecção de materiais inclui as palestras performativas: “Arquivos Invisíveis da Ditadura Portuguesa”, “Sobre o Silêncio Persistente” e “Quando é que a Revolução Acabou?”, e o formato que aqui se apresenta é uma estreia absoluta, concebida para o festival CITEMOR, que acreditamos ser um espaço de resistência cultural para cuja continuação queremos contribuir.
[1] Por exemplo o Brasil estabeleceu a Comissão Nacional da Verdade em Maio de 2012, para averiguar, esclarecer e reconstituir os acontecimentos e crimes cometidos entre 1946 e 1988, ou como os próprios afirmam, “a busca pela verdade e a promoção da reconciliação nacional.”
Investigação, texto, direcção e interpretação Joana Craveiro
Assistência Rosinda Costa
Colaboração criativa Tânia Guerreiro
Desenho de luz João Cachulo
Produção e assistência Rosário Faria
Apoio Assédio Teatro
Agradecimentos 20 Otto, Afonso Tuna, Centro de Documentação 25 de Abril, Fernando Nunes da Silva, Isabelle Coelho, João Tuna, Jorge Rato, José Ribeiro, Manuel Costa, Maria Gil, Maria Teresa Craveiro, Miguel Cardina, Rui Bebiano, Victor Hugo Pontes, e a todos os que generosamente nos ofereceram o seu testemunho.
O Teatro do Vestido é um estrutura financiada pelo Governo de Portugal / Secretário de Estado da Cultura / Direcção Geral das Artes.
M/12
No dia 8 de Agosto, haverá uma conversa no final do espectáculo moderada por Miguel Cardina, historiador e investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. No dia 9 de agosto, a conversa no final do espectáculo será moderada por Maria Gil, encenadora e directora artística do Teatro do Silêncio.
A versão final deste espectáculo tem estreia marcada para Novembro 2014, na Negócio-ZDB.