Citemor 1999



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olho

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Sex 13 Ago | 22:30 | Celeiro agrícola Jorge & Gatoeiro

estreia absoluta

Sab 14 e Dom 15 Ago | 24:00 | Celeiro agrícola Jorge & Gatoeiro

AGORA
Poderei eu transformar-me num homem novo. Poderá alguém por motivações internas ou por ser visitado por alguém ou alguma coisa transformar-se de forma a mudar-se usando apenas as suas intrínsecas características, mesmo que desconhecidas ou secretas para o próprio. Uma espécie de revelação não apenas religiosa mas de características psicofisiológicas. Transformar-se num novo ser, mais que humano. Poder-se-á supor que tal como a virgem que foi visitada pelo espírito santo sem saber de nada disso nem ter feito nada para que isso aconteça ficar grávida de um espírito com características de alguma forma divinas ou apenas estranhas à nossa percepção ou entendimento. Podemos nós ser visitados sem saber? Por algum ser ou entidade com capacidades miméticas que nos escapam. Ou visitamos sem o reconhecer algo ou alguém que nos modifique o nosso ser e estar. Será possível conceber essa mudança como uma passagem para um lugar em que a nossa percepção do cosmos se alargue tanto tanto que um seja igual a dois, assim como a matéria vive ligada à antimatéria ou como o polo positivo necessita do polo negativo para se compreender. 

Ou recomeçando de novo como as vagas desse oceano que somos todos, será possível retornar às origens e avançar de novo. Retomar de novo o lugar das forças. Da pureza. Que novas formas podemos nós descobrir na força. Que zona é essa que é de todos? Que zona é essa que nos chama com o sopro dos seus mistérios e pela qual nos matamos uns aos outros? Que novo homem pode erguer-se que esteja atento e que ao mesmo tempo olha para o caminho já feito e que sem saber que o sabe saiba qual o caminho que deve seguir. Aquele que caminha de olhos fechados viajando pelo oceano do mundo sem tropeçar. O tempo concentra-se no seu coração. Que novas influências poderá gerar a consciência da influência? Que vontade é essa de ser tudo ou ser só um pensamento, que se desdobra incontrolável e certeiro. Como facas azuis que nos rasgam a carne. Exactos. Acompanhados de uma dor tal qual que somos obrigados a deixá-los ir. Lutamos desesperados por nos agarrarmos a esse mundo maravilhoso que rodeia. Mas como a água escapa-se-nos. A água como a langonha também sonha. 

Somos todos o mesmo personagem. Sempre a querer mudar e sempre a ser ele mesmo. Uma ideia reflectida em muitas imagens. Sempre fixa sempre a escapar-se como o mercúrio. Um metal liquído que é em simultâneo pensamento e carne. Uma forma que é quase um corpo. Que se molda a outras formas que são outros corpos. Agora água mudo em mim o fundo do mar. 

OLHO


Colaboraram na realização deste trabalho Alberto Lopes, Ana Borralho, David Palma, Elsa Lima, Eric da Costa, Filipa Francisco, Filipa Hora, Francisco Rocha, Frederico Branco Gomes, Joana Lopes, João Galante, Jorge Bragada, José Pelicano, Lúcia Marques, Luís Firmo, Maria João Sigalho, Mónica Samões, Rita Só, Rui Viana e Sofia Fernandes 

Co-produção OLHO Associação Cultural, ANCA - Auditório Nacional Carlos Alberto e Citemor — Festival de Teatro de Montemor-o-Velho