Citemor 2016

© Luís Martins

TIAGO CADETE

ALLA PRIMA

Sáb 6 Ago | 21:30 | Teatro da Cerca de São Bernardo

Há uma anedota a respeito da obra de Michelangelo que parece oportuna para se iniciar esse texto. Em torno de 1515, ao finalizar o Moisés para o túmulo de Júlio II, em Roma, o artista teria dado uma martelada no joelho de sua escultura e incitado o homem marmóreo de olhar compenetrado e barbas longas a falar. Em outras palavras, sua escultura teria ficado tão realista que apenas faltaria a voz para que migrasse da representação do corpo humano para a aparição de um ente vivo. Michelangelo provocava de modo irônico a máxima dita por Horácio e Plutarco de que “a poesia é imagem que fala e a pintura é poesia muda”.

O que Tiago Cadete propõe com “Alla prima” vem de uma inquietude também perante o silêncio e imobilidade das imagens. O corpo humano, essa espécie de unidade fundamental da produção de imagens no Ocidente, é tanto o enfoque de sua pesquisa enquanto colecionador de imagens, como o instrumento através do qual o próprio corpo do intérprete se colocará perante o público. O seu olhar diz respeito à construção e invenção do Brasil – quais seriam os movimentos e vozes do grande número de imagens que em mais de cinco séculos foram capazes de criar certas ideias sobre o que seria o Brasil, os brasileiros e a brasilidade?

O termo “alla prima”, dentro da prática de pintura, diz respeito a uma técnica em que o artista enfrenta a tela diretamente, aplicando camadas de tinta sem esperar um tempo de secagem, causando uma espécie de sobreposição tanto de cores, quanto de imagens. De modo dialógico, o corpo do artista aqui responde diretamente a uma série de descrições sobre o que poderiam ser estes “corpos brasileiros”. Para além da narrativa histórica eurocêntrica que criou a teoria das três raças no Brasil – onde as populações africanas, europeias e indígenas seriam ingredientes deste caldeirão cultural –, sua anatomia se transforma num receptáculo de múltiplos criadores, culturas, etnias e proposições plásticas.

Através desta reencenação que se dá de modo transhistórico entre a visualidade e diferentes descrições orais/verbais, o corpo de Tiago Cadete acaba por desenhar uma nova coreografia deveras distante do samba e da alegria tropical comumente atribuída ao que poderia ser a “cultura brasileira”. De repente os trópicos ficam tristes e algumas das tentativas de colonização do Brasil a partir da imagem vem à tona.

Faz-se importante, então, sentir na pele o incômodo dessas poses e constatar que, mais do que uma geografia, o Brasil é um conceito constituído a partir de um corpo fictício que alinhava pedaços esquartejados de muitas vidas silenciadas pelo tempo.

RAPHAEL FONSECA

Criação e Interpretação Tiago Cadete

Consultor História da Arte Raphael Fonseca

Figurinos Carlota Lagido

Assistente de Projeto Bernardo Almeida

Director Técnico Nuno Patinho

Colaboradores Voz-Off Priscila Maia, Raphael Fonseca, Raquel André, Sueli Do Sacramento, Jonas Arrabal, Victor Dias, Laura Arbex, Felipe Abdala, Isabel Martins, Julia Arbex, Breno de Faria, Leandra Espírito Santo e Daniela Seixas

Fotos de Documentação Victor Dias

Fotografia de Cena José Carlos Duarte e Luís Martins

Assessoria de Imprensa Mafalda Simões

Teaser Francisca Marvão e Tiago Cadete

Residência Centro Coreográfico do Rio de Janeiro

Acolhimentos Escola De Mulheres, ZDB/Negócio, Mala Voadora/Porto

Co-Produção Temps d'images ‘15


www.tiagocadete.tumblr.com


M/16; 50 min