Citemor 2002



  © PEDRO MEDEIROS

waldemar bastos

concerto



Sex 26 Jul | 24:00 | Castelo 

A minha música tem origem numa série de paradoxos.

Sou um músico profissional que quase não estudou música.

Um intérprete africano cujo primeiro albúm foi gravado na América do Sul. Um artista de um país em guerra cujos principais temas são a paz e o optimismo. Um criador de canções que é considerado a voz de Angola, apesar de viver actualmente em Portugal.

 

Nasci em 1954 em São Salvador do Congo, província do Zaire, uma das várias regiões que mantém o nome de Zaire e Congo no sul da África Central, depois de os europeus terem dividido o continente a régua e esquadro após a II Guerra Mundial.

O meu país, Angola, foi devastado pela guerra. A primeira foi de libertação: contra o colonialismo português. Começou no inicío da década de sessenta e durou até que Salazar foi deposto e Angola se tornou um país independente. A segunda começou logo depois, foi uma guerra civil, fomentada e apoiada por um lado, pelos Estados Unidos e África do Sul, e por outro pela URSS e Cuba.

Ainda que as duas partes em conflito tenham tentado reclamar a minha música como sua, eu recusei vender-me aos interesses politicos e ser integrado nos partidos por dinheiro. Em resposta às lutas fratricidas de Angola, sempre ofereci uma mensagem enfatizando o valor da vida, a beleza e abundância deste mundo e a profunda necessidade de esperança.

 

Aparentemente é uma mensagem em que os meus compatriotas de todas as facções e etnias se revêm. Quando dei um concerto gratuíto em Kinaxixe na capital, Luanda, foi dito que as minhas canções tinham o poder de fazer dançar o presidente Eduardo dos Santos e Jonas Savimbi.

Waldemar Bastos

 

 

Waldemar Bastos realizou espectáculos em todo o mundo desde o inicío da década de 80. Foi perseguido pela polícia politíca portuguesa na época colonial e considerado “politicamente perigoso” depois da independência, tendo que exilar-se, primeiro no Brasil, depois em França e finalmente em Portugal.

Influenciado desde pequeno pela música brasileira, gravou o seu primeiro disco “Estamos Juntos” produzido por Chico Buarque e com a participação de Martinho da Vila.

De regresso a Portugal Waldemar editou o seu segundo trabalho “Angola Minha Namorada” e dois anos depois “Pitanga Madura” cuja canção homónima foi um grande êxito em Angola.

 

À semelhança de outros músicos a carreira de Waldemar Bastos tem um novo impulso quando conhece David Byrne. O ex-Talking Heads descobriu o angolano através de “Angola Minha Namorada” e propôs-lhe participar na compilação “Afropea3: Telling Stories to the Sea” que contou ainda com a participação de outros artistas do movimento afro-português como Cesária Évora e o seu compatriota Bonga.

 

O seu último disco, o quarto da sua carreira e o primeiro com a Loaka Bop, editora de David Byrne, é dedicado à memória de seu filho Walter, assassinado numa discoteca quando comemorava o aniversário de um amigo. “Preta Luz” (1998) gravado em Nova Iorque e produzido por Arto Lindsay, veícula a mensagem que Waldemar Bastos transmitiu durante toda a sua carreira: a busca da paz, o optimismo e o poder do amor.

 

Mais recentemente integrou um projecto internacional de luta contra as minas anti-pessoais, cujas receitas revertem integralmente a favor de campanhas de desminagem em vários países. Gravado no Japão e com produção de Ryuichi Sakamoto atingiu já mais de um milhão de discos vendidos.

 

Para o próximo mês de Novembro está marcado o reencontro em estúdio com Arto Lindsay para a realização de um novo albúm.

 

 

http://www.luakabop.com/waldemar/cmp/info.html

 

http://www.bacana.de/bastos.html