Citemor 2016

LOOPS.Lisboa

Sex 12, Sáb 13, Sex 19 e Sáb 20

18:00 - 22:00 | Junta de Freguesia

Sem o loop, não haveria nem o cinema nem a videoarte. A sua lógica cíclica e de repetição, que entrou para a História ao originalmente fazer da inércia movimento, atravessou séculos acompanhando as mais diversas formas de expressão autoral. Dos dispositivos ópticos do pré-cinema (Phenakistoscope, Zootrope, Kinetoscope) à obra de Duchamp, ou da pop art, a nomes que vão de Dan Graham e Martin Arnold a Harun Farocki, o loop demonstra uma invejável vitalidade enquanto elemento audiovisual essencial – e ainda em reinvenção. Independente da época, as possibilidades do loop dependem apenas da criatividade de quem manipula a imagem consoante o espaço, o tempo e o ambiente de projeção e/ou intervenção.

Loops.Lisboa resulta de uma parceria do Festival Temps d’Images e do Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, que pretende apoiar a criação na área da videoarte. Nesta primeira edição, de entre mais de uma centena de obras, representando uma riquíssima diversidade visual, conceptual, performativa, narrativa e cinemática, a artista visual Irit Batsry seleccionou as três criações finalistas que constituem a presente exposição, três exemplos contemporâneos e representativos da revisão permanente que caracteriza esta unidade essencial da linguagem da imagem: Travel Shot de Francisca Manuel e Elizabete Francisca, O Retrato de Ulisses de João Cristóvão Leitão, Cascade de João Pedro Fonseca.

Mais tarde, um júri composto por Emília Tavares (Curadora do MNAC), Conrado Uribe (Director Artístico do Loop Barcelona) e Alisson Avila (Co-Fundador e Curador do Cine Esquema Novo, Porto Alegre) viria a distinguir O Retrato de Ulisses de João Cristóvão Leitão com o prémio Loops.Lisboa 2015.

Inesperadamente, o Loops ganhou vida para além do Museu do Chiado (12 de Outubro de 2015 a 24 de Janeiro de 2016), esteve no Walk and Talk em Ponta Delgada e chega agora ao Citemor.

FRANCISCA MANUEL

E ELIZABETE FRANCISCA

TRAVEL SHOT


Para além das imensas possibilidades de um espaço e daquilo que pode convocar ou sugerir, interessa-nos principalmente reflectir sobre a potência da acção, a potência do agir, a potência do que uma matéria (ou alguém) pode convocar e criar. Isso parece-nos ser o motor para a criação de uma outra realidade que contrapõe um estado das coisas: aparentemente paralisado e amenizado, existindo sob a forma de sedativo para acalmar a alma, os ânimos gerais e o poder do imaginar.

Pensamos… isto pode funcionar como se um espaço originalmente estivesse num limbo, à espera de receber um sentido, um sentido que se aproxima, na própria ideia de criar estados de existência. Esse estar e ser só pode existir num fluxo contínuo de informações que nos atravessam e trespassam. Somos feitos de memórias, factos, desejos, impulsos e de tudo aquilo que ainda não sabemos. Esse estar vital só é possível se transportarmos em nós aquilo que já foi e aquilo que será, num aqui e agora amplamente poroso e disponível. Uma permeabilidade no manuseamento do sentido das coisas é uma forma de ver. O espaço expande-se, e quando o tempo é múltiplo tudo pode acontecer. Talvez a isso possamos chamar escolha, numa contradição que há-de sempre escapar:

“if i was where i would be then i’ll be where i am not, here i am, where i must be, where i would be, i am not” (Katie Cruel, Karen Dalton)

Criação Elizabete Francisca e Francisca Manuel Realização, Imagem e Edição Francisca Manuel Interpretação Elizabete Francisca Pós-produção áudio Paulo Machado Produção Elizabete Francisca e Francisca Manuel Agradecimentos Duarte Martins, Paula Pereira, Susana Batel

JOÃO CRISTÓVÃO LEITÃO

O RETRATO DE ULISSES


"O Retrato de Ulisses" é uma vertiginosa viagem pelo tempo e pela literatura. Uma viagem onde Ulisses se encontra enclausurado pelo mecanismo que é o loop, o qual opera a nível narrativo, a nível espaciotemporal (dada a utilização de um único plano-sequência) e a nível visual (mediante a reutilização constante do mesmo material imagético).

No fundo, "O Retrato de Ulisses" não é mais do que um questionamento sobre a identidade humana aquando do seu confronto com a possibilidade da circularidade do tempo e com as durações objectiva e subjectiva deste. Ulisses é Ulisses. No entanto, tal não significa que também não seja Cervantes, Pierre Menard, Alexandre Magno, César, Homero, Tchekhov, Nietzsche, Borges e, indubitavelmente, eu próprio.

Realização, som, montagem, produção e voz-off João Cristóvão Leitão Textos (baseado em) Anton Chekhov, Friedrich Nietzsche e Jorge Luis Borges Com Duarte Amaral Soares Assistência de realização Marta Ribeiro Assistência de produção Joana Peralta Pós-produção de imagem e assistência de montagem Miguel Leitão Captação e pós-produção de voz-off Manuel Ramos Tradução Ana Pessanha

JOÃO PEDRO FONSECA

CASCADE


Esta obra não é apenas um loop mas uma peça que, através da repetição, entrega-se a uma forma de mudança. A memória da repetição, estando ligada à interação de uma ação num curto espaço de tempo, é aqui contrariada, pois a peça vive num longo questionamento temporal. Desta forma, tende a não se mecanizar sob o exercício da repetição, e o espectador ao confrontar os loops deparar-se-á com certos detalhes de que não se tinha apercebido anteriormente. É do bloco de pedra que nasce o ideal físico da perfeição onde o processo de remoção dá lugar à forma e com ele vem o reflexo do nosso imaginário, um espelho idealista da nossa carne. A criação e a sua ausência vivem sob a forma de poeira, que une este paralelismo antagónico, o elemento basilar para o decorrer da ação onde os corpos nascem e se compõem através dela. A impenetrabilidade dos corpos leva-os ao anulamento mútuo mas mantendo sempre a sua presença anímica, mesmo não vendo a sua verdadeira forma corpórea sabemos que está lá, pois, ao que antes fora apenas um bloco, ao longo da peça, atribuímos um rosto e uma identidade. E no espaço, o espectador é apenas o testemunho de um fenómeno.

Realização João Pedro Fonseca Mulher performer Inês Apolinário Homem performer Fábio Faustino Assistente Maurício Santos