Citemor 2020

Sab 25 Jul 22:30 - Montemor-o-Velho

ÚTERO

PRIMEIRO MANDAMENTO - “ROMEU E JULIETA” A PARTIR DE PROKOFIEV – ROMEO AND JULIET – THE THREE SUITES

RESIDÊNCIA DE CRIAÇÃO, APRESENTAÇÃO INFORMAL

© Helena Gonçalves

Esta peça, nasce da ideia de "remontar" as partituras que Serguei Prokofiev criou para Ballet. Aprimeira será "Romeu e Julieta", que estabelece uma relação com o autor William Shakespeare, nos símbolos e formas, muitas vezes associadas só a uma estética e a um tipo de bailarino e forma de dançar. Esta narrativa impele-nos a "entrar" e a "espreitar" contextos recorrentemente distantes, perspetivando a história da Dança em confronto com o mundo contemporâneo, a sociedade, e todos os seus ícones e valores. No campo estético, percorrem-se novos lugares na obra, ao relacionar toda a abordagem clássica, com o corpo invertido, que não aguenta a verticalidade, como o temos trabalhado. William Shakespeare, figura “imprópria”, que hoje carrega ainda a imagem de mistério (nunca saberemos realmente quem foi ou como viveu). Tal como o artista Bansky nos dias de hoje. Fizeram-se filmes, músicas, ballets, livros a partir da sua obra. O seu legado é um hino aos lugares mágicos da incompreensão. Lugares capazes de questionar o nosso lugar como pessoas, lugares espirituais, ideais para a criação. A estreia da referida peça em 1938 ("Romeu e Julieta"), gerou controvérsia pública, por não aceitarem a reinterpretação da peça de William Shakespeare com um final feliz.

A relação pessoal do coreógrafo Miguel Moreira com os universos de Prokofiev e Shakespeare é extensa. Há dois anos, foi o actor convidado na abertura dos “Dias da Música” na obra “Ivan, o Terrível” de Prokofiev. Partitura adaptada do filme de “Eisenstein”. Enquanto criador nos últimos trinta anos, o seu confronto com textos de William Shakespeare e também nas produções do Teatro Nacional D.Maria II, procuraram perceber e explorar os estímulos corporais provocados pelas suas palavras. Porque os bailarinos também dançam com as palavras. Os bailarinos criam, com a sua acção corporal - a sua própria dança independente do coreógrafo - lugares inauditos onde cabem palavras que podem ser pedras, todo o infinito. Esse lugar primordial da arte. Destaca-se outro exemplo, na peça “Operários” de Miguel Moreira e Romeu Runa, interpretada pelos dois, em que Miguel e Romeu gritavam pelo Prokofiev e amúsica era “Dance of Knights” de Prokofiev. Estes sinais, que se estilhaçam em muitos momentos, que já vinham de trás, de outras criações e que surgem quando se realiza uma retrospetiva. Neste momento o seu desígnio enquanto criador fixou-se na dança e na sua linguagem, urgindo o encontro com estes artistas (Prokofiev/Shakespeare), capazes de olhara humanidade, tal como é, na sua imensa fragilidade e sonho. Enquanto artista, pretende expressar ao mundo, através de uma obra de arte na área da dança, este manifesto da incompreensão. Como se falasse aos cidadãos e cidadãs - “Não nos vamos prender a estes lugares conhecidos, vamos subir a nossa montanha e encontrar a razão da nossa caminhada. ”Esta possibilidade de reescrita constante de obras, que já “saíram” da mão dos seus criadores, e que a partir delas, será possível criar novos objetos marcantes para toda a humanidade, aliando a tradição e a inovação. A Dança apropria-se ao longo da história de narrativas, o espectador teria que ser "enclausurado" na compreensão racional. Percorrem-se lugares, impossíveis de esclarecer ao longo da vida, mas que se inspiram nas grandes narrativas do nosso património comum. A Dança, como um lugar de contraditório, onde a arte pode descobrir novas possibilidades imaginativas acerca do corpo e do seu movimento, permite a evolução de técnicas e lugares em palco. Evoca-se nos espectadores um sentido cinestésico e uma capacidade de pensamento crítico sobre o mundo. Procura-se a urgência de uma linguagem que desafia cânones, acerca do que é viver e pensar, centrado no pensamento do corpo de uma mulher ou de um homem. Existem artistas, capazes de desafiar os lugares comuns em cada área artística. Linguagens que extravasam para outras dimensões, e que em muitos casos conseguiram transformar-se em casos universais, capazes de mudar a humanidade, seja em que parte do mundo se encontrem. Figuras ímpares como Martha Graham, Pablo Picasso, William Shakespeare, desafiaram a perceção humana e os seus sentidos. Artistas que influenciaram todas as áreas criativas, abrindo o humano para o seu lugar de incompreensão e mistério. É no cruzamento de universos, influências e vivências pessoais e artísticas que se procura reinventar o objeto artístico proposto.



Direcção Miguel Moreira

Com Francisco Camacho, Maria Fonseca e shadoWMan

Música Prokoviev com recriação ao vivo de Ricardo Toscano e João Pereira

Concepção plástica Jorge Rosado e Ecco Mie

Pesquisa Maria Mel

Vídeo João Pedro Fonseca

Fotografia Helena Gonçalves

Apoio Espaço das Gaivotas

Produção Útero em coprodução com Centro Cultural Vila Flor, Cine-Teatro Avenida, Citemor — Festival de Montemor-o-Velho, EIRA, Festival Acaso, Theatro Circo.


M/12


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