Citemor 1999
artistas unidos
CICLO SEM DEUS NEM CHEFE
dois homens
Projeto de Luís Gaspar
Dom 1 Ago | 22:30 | Sala B
CICLO
SEM DEUS NEM CHEFE
Artistas Unidos
Seminário
Porque os actores não são apenas intérpretes, caras de um catálogo à mercê dos encenadores. Ao acreditarmos que são artistas, exigimos dos actores uma responsabilidade cívica. Os actores são pessoas, que têm coisas para dizer às outras pessoas que, por acaso e vontade nesse dia, forem espectadores. Os actores são pessoas que treinam a produção dos espectáculos, que escolhem os textos que desejam fazer, que escolhem. Sem ninguém a dizer-lhes o caminho do bem. Na escuridão da sua liberdade.
Jorge Silva Melo
Uma colagem de diversos escritos de Kafka (contos, diários, cartas e romances), de olhos postos não no Kafka excessi-vamente apontado como crítico ou caricaturista de regimes e instituições, mas o Kafka preocupado com o Eu, com o Indiví-duo. Muitas das cartas e apontamentos de Kafka revelam um incessante fracasso dos muitos planos que vai fazendo ao longo da sua vida: o casamento, a fuga para Jeru-salém, o exército, a independência familiar, a sua demissão da companhia de seguros, etc. Acusa o pai, a noiva, o patrão, acusa a noite, o dia, acusa os vizinhos que o incomodam com os ruídos aos quais foi sempre muito sensível, acusa tudo que é o outro, sabendo que os seus falhanços resultam sobretudo de si próprio. Este homem que afirma “ter de suportar e ser a causa de tanto sofrimento” é autor indissociável de muitas outras perso-nagens.
O funcionário deste monólogo poderia ser um dos grandes K’s de Franz Kafka. É um funcionário perdido num escritório morto, onde o tempo parou (onde todos existem), um funcionário que se faz centro de diversas narrativas, um centro que também nos absorve a nós, espectadores. Fecha as portas do escritório onde estamos, faz-nos as mesmas perguntas que a si próprio, insulta-nos como se insulta a ele e con-dena-nos da mesma forma que se condena.
(…) E o discurso corre, naturalmente, sem um sujeito gramatical ou tempo verbal definidos. Como se aquele funcionário que ouvimos queixar-se fosse, não só o autor, como as personagens de que é autor, o actor que as representa e o espectador que vê e ouve a representação.
José Vieira Mendes
A partir de Franz Kafka
Projecto Luís Gaspar
Adaptação José Vieira Mendes
Interpretação Luís Gaspar
Luz Pedro Domingos
Cenografia Ana Paula Rocha
Figurinos Rita Lopes Alves
Direcção técnica José Rui Silva
Fotografia Jorge Gonçalves
Produção Catarina Saraiva e Helena Bragança Gil
Patrocínio Ministério da Cultura