Citemor 2001

"O Gato Lucas e a Tia Zizi" é a mais recente criação do Teatro da Garagem e tem por mote "a noite de todos os encantos e misérias". É durante esta noite evocativa e mágica, que se encontram duas personagens: o Gato Lucas e a Tia Zizi. O Gato Lucas, mistura de homem e de gato, é um tímido funcionário público que durante a noite se transforma num feroz e sedutor gato. A Tia Zizi é uma ilustre actriz, já retirada dos palcos, que recolhe na sua morada todos os "animais feridos". Esta dupla vai viver uma história de amor que é também o retrato da iniciação do Gato Lucas e da redenção da Tia Zizi. Continuando a sua pesquisa no âmbito da escrita teatral e da materialização cénica dos textos, o Teatro da Garagem estabelece com "O Gato Lucas e a Tia Zizi" uma nova etapa da sua existência, que corresponde à redefinição dos seus propósitos estéticos e estilísticos. Atrevemo-nos, desta vez, a um teatro de câmara, conciso no seu enfoque narrativo e propiciador, estamos em crer, de uma meditação que é também um gesto físico, na representação do actor. O cenário minimalista, a omnipresença do actor/personagem, a poesia em diálogo, a música horizontal expansiva, a luz encantatória e arquitectural, os figurinos evocativos de uma realidade social e dos conteúdos simbólicos das personagens, a contenção presente no tom geral do espectáculo, são pontos de partida que estabelecem, julgamos, um diálogo profícuo com o público. 

Os Testemunhos de Adélia, constituem a continuação de O Gato Lucas e a Tia Zizi. A peça está dividida em duas partes distintas: Tarefas e Adélia Z.. 

Cada Tarefa corresponde a um acto evocativo do quotidiano com uma natureza simbólica particular. As actrizes concebem um Mundo a partir das suas 9 Tarefas. Cada Tarefa equivale também a 1 mês de uma gestação regular. Acompanhamos os diálogos entre a Adélia florida, "neta" da Tia Zizi, a Adélia Chefe, superiora hierárquica do Gato Lucas, a Adélia Dias, estudante universitária que nas horas vagas trabalhava como mulher a dias da tia Zizi, e a Adélia Abandonada, modelo inspirador da Tia Zizi, a amada que Procópio abandonou. Nestes diálogos sobrepõem-se quatro planos distintos: o da memória do Gato Lucas e da Tia Zizi enquanto acontecimento "real", o plano da reflexão sobre o Teatro, o plano que contamina o discurso com sinais avulsos e comentários do tempo mediático, e o plano das personagens propriamente ditas cuja ligação entre si é sobretudo ditada pela história dos cinco irmãos de Idaho. 

A segunda parte da peça é constituída pelo monólogo da Adélia Z. . Adélia Z., é a imbecil de quem todos abusam. Abusar de Adélia Z., é procurar uma explicação derradeira e definitiva, é de certa forma interrogar Deus uma última vez. Nessa medida Adélia Z., é a imagem do nosso desespero perante um Deus impassível e miserável. Adélia Z. mostra-se indiferente à voz gravada que se ouve a dizer o texto e que não se sabe a quem pertence, se a Deus se à nossa própria consciência. A baba continua a escorrer da boca da Adélia Z., o seu olhar sorridente é próprio de quem não precisa de mais explicações, de quem se dá por satisfeita e agradece, de quem porventura agradece a atenção do espectador, dando-lhe a palavra. 

Textos e encenações Carlos J. Pessoa 

Assistência de encenação Catarina Loureiro 

Interpretação "O gato Lucas e a Tia Zizi" Miguel Mendes e Nelson Boggio 

Interpretação "Os testemunhos de Adélia" Anabela Almeida, Cláudia Gaiolas, Maria João Vicente, Sílvia Filipe e Catarina Loureiro 

Espaços cénicos José Espada 

Figurinos Maria João Vicente 

Desenhos de luz João d`Almeida 

Música (composição e interpretação) Daniel Cervantes 

Desenhos de som Francisco Leal 

Design gráfico Paula Cardoso 

Produção Maria João Vicente

Assistente de produção Fernanda Lima 

Fotografias Susana Paiva 

Mestra de guarda-roupa Teresa Louro

Apoios Ministério da Cultura, IPAE, Apoio da Culturporto e Rivoli

bilhete: 1 500 Esc. | bilhete com desconto: 1 000 Esc.

(desconto para < 25 anos, estudantes, portadores de cartão jovem e profissionais do espectáculo)