PEDRO LACERDA

PAIXÃO SEGUNDO JOÃO

de ANTONIO TARANTINO

SEX 12 AGO 22:30

PAÇO DE TENTÚGAL - 40°13'06.5"N 8°34'54.6"W

© VERA MARMELO

Esta peça, que integra “Quatro actos Profanos” de Antonio Tarantino (e ganhou em 1994 o prémio Riccione e em 1998 o prémio Ubu), conta a viagem de um doente mental, acompanhado por um enfermeiro, às diferentes secções da Segurança Social para obter ou não, o seu estatuto de “louco”. Se o texto nos propõe magistralmente momentos engraçados e outros trágicos, as circunstânicas actuais reforçam a sua vertente distópica, e a par da vontade de acompanhar o trabalho desta equipa, também o facto de Tarantino nos ter deixado recentemente e de nos encontrarmos em situação excepcional de pandemia, constituem condições que nos impelem a uma nova leitura.

A “Paixão segundo João” é um texto de Antonio Tarantino sobre a santificação do indivíduo. É um caminho de santidade, construído de uma forma paralela ao Evangelho de São João, nos capítulos 18 e 19, onde é descrita a paixão de Cristo. Aqui em vez de Monte das Oliveiras, de traições de Judas, interrogatórios, julgamentos e crucificações temos o bar do hospital, a sala de espera da segurança social, o consultório do médico, o medo dos electrochoques. Um doente mental (Eu-Ele), que se toma pelo filho de deus, percorre a sua via sacra acompanhado por um funcionário da instituição (João). É a viagem em estações, como uma via sacra, revisitada por dois indivíduos. Um esquizofrénico, de linguagem limitada e repetitiva e outro um homem simples, de linguagem telúrica, presente e participativa. Os sentidos das realidades da esquizofrenia são tão verdadeiros como outros suportados pela razão. E é incrível como a realidade afastada nos comove tanto, cidadãos da terra. Segundo o autor, a mais pequena centelha de expressão poderá conter toda a poesia, hoje. É esse o caminho que este projecto almeja, a tentativa de conseguir por um instante ser possuidor de toda a poesia do mundo. A “Paixão segundo João” é um espectáculo sobre a vida, sobre a justificação da existência para que não possa ser definida como um fracasso. No pressuposto paranóico que a racionalidade não pode ser entendida senão de uma forma religiosa porque fere o ser e equivale ao caminho para a cruz. É um teatro quântico, de partículas pequenas, porque o ser individual pouco importa, e o espanto das realidades choca, colabora, sobrepõe-se, tem interpretações diferentes consoante o observador.

Como na física, depende de mim ou dele ou do João ou do público, depende do observador. E as versões colaboram e embatem e criam o teatro. A colisão que pode mostrar a explicação do universo. E a explicação do universo é toda a poesia do mundo. É isto que procuramos neste projecto: expor um ambiente de colisões, de observação de diferentes dimensões, em tempos relativos. O resultado final poderá conter, talvez, a explicação do Mundo, hoje e aqui. Eu-Ele vai salvar o mundo para os que nele acreditam, mas mais importante vai justificar perante a vida a sua existência. Os pobres de espírito são inimputáveis.

PEDRO LACERDA



Texto Antonio Tarantino 

Tradução Tereza Bento 

Direcção Pedro Lacerda 

Interpretação Vítor D’andrade e Pedro Lacerda 

Participação José Grazina

Assistência de encenação Carlos Alves 

Desenho de luz Daniel Worm 

Figurinos Miss Suzie

Produção e difusão Má-Criação Associação Cultural

Co-produção Galeria Zé dos Bois (ZDB)

Residência de co-produção O Espaço do Tempo 

Apoio financeiro República Portuguesa - DGArtes, Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação GDA

Apoio Gaspar & Gonçalves Lda / All Games


M/16; 60 '


Paço de Tentúgal - coordenadas GPS

40°13'06.5"N 8°34'54.6"W