Citemor 2002
teatro da garagem
donos dos cães
Sex 26, Sab 27 e Dom 28 Jul | 22:30 | Sala B
residência, estreia absoluta
Procurei escrever e encenar sobre relações humanas.
Complexidade parece-me ser a palavra chave. Uma chave que abre a porta para os universos contraditórios dos afectos. A palavra “afectos” engloba sentimentos e causas. Sentimentos é aquilo que se expressa independentemente de uma explicação racional, causas é aquilo que a razão justifica e o sentimento pode dar vida.
Não existem bons nem maus nesta peça; todos partilham a sua quota de responsabilidade na demanda que fazem de si mesmos. Cada personagem é responsável por si, o que não significa que se procure um juízo moral ou de outra natureza, mas tão somente exige-se um sentido, ou sentidos, para a existência individual e colectiva. Cada personagem é responsável por si e pelos outros, cada um é também os outros.
Viver é usufruir legados e transmitir um legados. O legado está pois para lá da pessoa; nunca é posse, é dádiva e renúncia à posse. O que cada personagem vive vive-o intimamente, mas também o vive como uma experiência que pode estar a ser partilhada, que fica ou não fica, algures, que é comunicável, que é Teatro.
Não encontro, no entendimento que consigo fazer da vida humana, fórmulas “fortes”, sentidos “decisivos”, ideias e valores “inquestionáveis”; encontro sentidos adormecidos, à espera de uma melhor oportunidade para serem despertos por um beijo. A nossa época, como a vejo, não é uma época de transição, mas de preparação para a transição. Talvez seja uma época triste, porque tudo o que está adormecido está perigosamente próximo da morte, mas também não deixa de ser verdade que tudo o que está adormecido está próximo do sonho.
Acredito que a utopia usa sapatos de tamanhos pequenos, que o Homem é uma etapa de si mesmo a caminho de outra coisa porventura menos egoísta, mais fraterna, mais próxima do respeito não só pelas diferenças entre cada pessoa, como no respeito pelo Universo naquilo que de infinitamente diverso nos surpreende e transcende.
Acredito no Teatro como reduto de espiritualidade, de razão, de alegria e de conhecimento, acredito na causa do Teatro como combate cultural onde todos temos razão nalgumas coisas e não temos razão noutras, onde temos, fazedores e público, sobretudo, uma grande paixão por esta Arte. Acredito nestas coisas desde sempre.
Gostaria de acrescentar que descobri, com “Os Donos dos Cães”, algo irónico e prosaico: que não é só a morte que não tem solução, que a vida também não tem solução, por isso penso neste espectáculo sem vaidade, com a morte ao ombro e um brilho nas mãos que escrevem.
Carlos J. Pessoa
Texto e encenação Carlos J. Pessoa
Cenografia Carlos J. Ribeiro e José Espada
Figurinos Maria João Vicente
Música (composição e interpretação) Daniel Cervantes
Desenho de Luz João d’Almeida
Desenho de Som Francisco Leal
Elenco Carlos Oliveira, Cláudia Gaiolas, Laurinda Chiungue, Miguel Mendes, Nelson Boggio e Tonan Quito
Design gráfico Paula Cardoso
Produção executiva/Direcção de Cena Patrícia Costa
Assistente de montagem/operação de luz José Dias
Mestra de guarda-roupa Teresa Louro
Co-produção Teatro da Garagem, Dramat (projecto Escritas por Medida), ANCA, Citemor, CAPA- Centro de Artes Performativas do Algarve, Casa das Artes de Famalicão
Bilhete: € 10
Bilhete com desconto: €6
(desconto para < 25 anos, estudantes e profissionais do espectáculo)