Citemor 2019


"A construção de um demónio" a partir de "As Tentações de Santo Antão" de Gustave Flaubert

John Romão e Silvia Costa

25 a 29 Julho - Estúdios da Companhia Clara Andermatt, Lisboa

30 Julho a 2 Agosto - Montemor-o-Velho

La tentation de Saint Antoine ©Silvia Costa

Que voz é essa voz que me chama, me atormenta e me empurra para onde eu sei que não deveria ir? Quem me agarra a mão e me faz agir mesmo que eu não queira?

Este trabalho de pesquisa e de questionamento mergulha no discurso visionário de Gustave Flaubert e no poder da imaginação que emana da sua obra "La Tentation de Saint Antoine" ["As tentações de Santo Antão"]. Guiados pela personagem de Santo Antão e pelas formas que este atribui às suas tentações, tentaremos dar imagem, corpo e voz ao lado obscuro e fraccionado que vive em nós.

Entrar na noite negra que está em nós, iluminá-la, enfrentar o risco de abrir uma porta que poderia ser perigosa.

O interesse desta figura, muito estudada na história da arte, relaciona-se com uma procura do sentimento de culpa, de consciência pessoal, de ética de cada um, cuja manifestação no nosso tempo parece precisar de uma renovação, de um novo posicionamento. Ou talvez de um retorno à origem do que é o humano. A realidade divide, e é nesse corte que é preciso olhar. Como Santo Antão, várias outras figuras históricas, tais como Marco Aurélio, Santo Agostinho ou Plotino, tiveram uma visão controversa do mundo e da sua realidade, voltando-se para a vida enigmática do espírito, o movimento autónomo das emoções.

Frente a um mundo que conhece uma perda de sentido, uma incapacidade de ser entendido (para quem quer entendê-lo), encontramos a riqueza de um mundo verdadeiro numa paisagem da intimidade.

Este é o caminho que seguiremos durante este workshop e que levará os seus participantes a uma procura interna das formas que os demónios e as suas tentações podem tomar, como as personagens que surgem na obra de Flaubert. Esta pesquisa resultará na apresentação pública de um espectáculo, no Festival Citemor.

PÚBLICO-ALVO

Intérpretes de artes performativas, entre os 18 e os 30 anos, com disponibilidade para um trabalho físico e de texto.

DIAS E LOCAIS

25 - 29 Julho (15h-18h): Lisboa / Estúdios da Companhia Clara Andermatt (Rua Luz Soriano, 67)

30 Julho - 2 Agosto: Montemor-o-Velho / Festival Citemor

3 Agosto: Montemor-o-Velho / apresentação pública no Festival Citemor

CANDIDATURAS

- 15/07/2019: data limite para inscrição através do formulário online, onde é solicitado CV, fotografia, carta de motivação e dois vídeos com duração máxima de 1 minuto cada.

- 18/07/2019: anúncio dos 7 participantes seleccionados.

A participação é gratuita.

Os gastos de deslocação, de alojamento e alimentação em Montemor-o-Velho serão cobertos pelo Festival Citemor.

Produção: Colectivo 84

Parceria: Festival Citemor

O Colectivo 84 é uma entidade apoiada pela DG Artes / Ministério da Cultura

"As Tentações de Santo Antão" teve a sua primeira apresentação a 5 de Junho 2019 no Quai – Centro Dramático Nacional de Angers Pays de la Loire, no contexto dos Ateliers de Formação et de Pesquisa do CDN.


BIOGRAFIAS

John Romão (1984) é encenador, actor, professor e programador. Desenvolve o seu trabalho no campo do teatro, da performance e dos cruzamentos disciplinares.

O seu teatro tem reflectido sobre a construção de imagens, convocando temáticas como a juventude, o género, a marginalidade, o colectivo e o questionamento do sagrado na contemporaneidade. Dirige os seus espectáculos desde 2002, tais como "Que difícil é ser um deus" (2017), "Náufrago" a partir de T. Bernhard (2016), "Teorema" (2014), "Pocilga" de Pasolini (2015), "Morro como país" (2012), entre outros. Apresentou o seu trabalho em Portugal, Espanha, França, Alemanha, Noruega, Eslováquia, Brasil e Argentina.

Entre 2006-2017 foi assistente de encenação do encenador argentino Rodrigo García e assistiu Romeo Castellucci na Bienal de Teatro de Veneza (2010-11).

Em teatro, trabalhou com Tania Bruguera, Romeo Castellucci, Rodrigo García, Tiago Rodrigues, Jorge Andrade, Mariana Tengner Barros, Jorge Silva Melo, Paulo Castro, Francisco Salgado, etc.

Recebeu, na categoria de Teatro, os prémios Novos 2014 e Jovens Criadores Nacionais 2012.

Tem sido professor convidado em diferentes escolas e universidades, tais como a Escola Superior de Teatro e Cinema e a Escola Superior de Dança, em Lisboa. É o director artístico e programador da BoCA - Biennial of Contemporary Arts.

Silvia Costa (1984) é uma encenadora e performer italiana, de Treviso. Graduada em Artes Visuais e Teatro pela Universidade IUAV de Veneza, em 2006, tem proposto um teatro visual e poético assente numa reflexão profunda das imagens. Combinando frequentemente os papéis de escritora, encenadora, intérprete e cenógrafa, a sua exploração no teatro cruza diferentes territórios estéticos.

Criou várias performances ("La quiescenza del seme", "A sangue freddo", "Alla Traccia", "Midnight Snack"), peças de teatro ("Figure", "Stato di Grazia", "Quello che di più grande l’uomo ha realizzato sulla terra", "Poil de Carotte"), instalações e trabalhos em vídeo ("Musica da Camera", "Tabula", "Emotional Intelligence", "Descrizione di un quadro"). Desde 2012 tem criado performances e instalações para crianças, e desde 2006 tem participado como colaboradora artística e intérprete em várias produções de teatro e de ópera dirigidas por Romeo Castellucci.

A sua última criação, "Nel Paese dell'inverno", a partir do texto de Cesare Pavese "Diálogos com Leucó", foi estreada no Festival de Outono de Paris, em 2018, e tem circulado internacionalmente. Em 2017-19 é artista associada do Teatro dell'Arte/Triennale Milano, e em 2019 no Le Quai - CDN de Angers. As suas criações têm sido apresentadas em vários festivais internacionais.