Citemor 2019

LOOPS.Lisboa

26 Julho / 3 Agosto (15:00/19:00) - Casa das Artes Bissaya Barreto, Coimbra

25 Julho / ABERTURA

Loops.Lisboa resulta de uma parceria do Festival Temps d’Images e do Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado (MNAC), a que o Citemor está associado desde a primeira edição. Este ano apresenta um conjunto de obras, seleccionadas entre 197 submetidas, que marcadamente possuem o “manual”, o “mecânico”, o “artesanal” ou mesmo o “sujo”.

"Aquela velha questão do som e da imagem", de João Bento, brinca com o sync audiovisual, sobrepondo camadas de informação diante de um plano fixo, para criar um loop-janela de beleza particular, directamente associado à lógica do pré-cinema.

“Período Azul”, de Mané, combina o papel, a cor azul e algumas obras icónicas da Arte dos séculos XX e XXI para estabelecer um loop conceptual construindo um ciclo de inter-relação e permanência.

E “O Guarani (direita ou esquerda)”, de Letícia Larín, empurra-nos para um loop formal e semiótico desconcertante, ao retratar o catastrófico momento social e político do Brasil.

O mais fascinante deste encontro de obras reside na sua capacidade de ultrapassar a dimensão "analógica" representada por canetas, papéis, tintas, manivelas, fotografias... O que as une, sobretudo, são conceitos atemporais como o desejo pela materialidade, a inteligência do contexto e a busca pelo bom senso.

De forma muito vincada, todos reflectem uma essência filosófica por trás do loop: todas as coisas pertencem a ciclos. Life is a loop. E a Arte possui o dom essencial de o demonstrar.

Júri de Pré-seleção: Irit Batsry (presidente), Alisson Avila e António Câmara Manuel

Júri de Premiação: Emília Tavares (presidente), Isabel Nogueira e Sandra Lischi

JOÃO BENTO

Aquela Velha Questão do Som e da Imagem

Uma paisagem que se move (através das bobines encontradas num cinema velho e devoluto), um observador fixo e uma banda sonora.

Este vídeo corresponde a um período de pesquisa e investigação levado a cabo no final dos anos 90, na qual explorava exaustivamente questões que se relacionavam com a fotografia, o cinema, o vídeo e o som. Questionando assim estes diferentes mas complementares suportes, transformando-os através do uso de outros meios artísticos e preservando o seu modo arcaico de funcionamento através das características próprias de cada um deles. Abrindo desta forma um salto para lá da objectividade que caracteriza a fotografia, onde através de um corpo maior de trabalho daqui derivado explorava o modo como olhamos e reenquadramos mentalmente uma imagem fixa. A fotografia estabelece uma fixação num tempo específico que não se apaga fisicamente em direcção a outro momento. Este apagar apenas ocorre ou pode decorrer no nosso sistema perceptivo. Característica humana contrária à reprodutibilidade sonoramente mecanizada da fotografia.

Começou para mim aqui uma grande questão entre o som e a imagem.


Vídeo, Conceito e Fotografia: João Bento

Música: David Leitão

2000, 2’47’’

MANÉ

Período Azul

A revisitação de obras icónicas de ‘grandes mestres da arte’ (do séc. XX ao presente) por ordem não necessariamente cronológica é centrada na cor azul, ponto de partida para a narrativa que se desenrola (literalmente) sobre um rolo de papel. Este é, sucessivamente, rodado/desenhado/rodado, num movimento mise en abîme que reproduz materialmente o loop imaterial da imagem.

A construção de imagens icónicas (e irónicas) faz-se, inicialmente, a partir das ferramentas tradicionais do desenho/pintura, media que vai sendo substituído por objectos domésticos/íntimos, culminando numa sugestiva masturbação.

O loop reformula o significado das acções e dos objectos convocados. O efeito de espelho entre o loop e o seu reflexo sublinha a repetição (sistemática) de uma tendência (sistémica) nos momentos significativos de transição na arte ocidental, assinalando a constante nas convenções substituídas e substituintes. A página volta sempre a ficar em branco: pronta a ser reescrita.



Realização e Produção: Mané

Imagem e Edição: Mané e Bernardo Fachada

Agradecimentos: Ana Cristina Cachola, Marta Espiridião, Tiago Pereira e João Rosas


2018, 11’45’’

LETÍCIA LARÍN

O Guarani (Direita ou Esquerda)

Acompanhando o som da música “O Guarani” de Carlos Gomes, as mãos direita e esquerda revezam-se para desenhar com caneta esferográfica vermelha, círculos no meio da bandeira do Brasil. Ao invés de concluir um desfecho, o movimento reitera-se numa continuidade de idas e vindas: a música e a acção invertem-se, regressando ao ponto de partida.


Vídeo-performance de Letícia Larín

2018, 19’07’’